Um mergulho no abismo (Nota ao leitor)

No dia 15/06/2011, encontrei, ao acaso, em um dos porões inveterados e recônditos do centro da cidade de Natal, um conjunto de cinco cadernos que continham, no interior de suas páginas, uma série de rabiscos e anotações não necessariamente organizados numa sequência temporal progressiva. Várias das folhas dos tais cadernos já se encontravam rasgadas em alguns pontos ou manchadas por uma mistura de lodo, sangue e bebida alcoólica. Havia ainda um forte cheiro de éter e mofo exalado pelo local.

A única coisa que me pareceu mais próxima de uma indicação de quem teria sido o proprietário daqueles cadernos e o autor daquelas linhas aparecia na, por assim dizer, capa dos volumes. Estava escrito no frontispício dos cinco tomos: “R. Sórel”. Nenhuma letra a mais que isso.


Por não haver sinal da presença do tal R. Sórel no local e nem de qualquer outra pessoa (aliás, parecia, na verdade, que aquele lugar fora abandonado há, no mínimo, alguns meses – a poeira profusa, os insetos e os ratos que o povoavam denunciavam essa minha intuição), passei, ligeiramente, os olhos pelas páginas rabiscadas e percebi que se tratavam de uma espécie de diário do Sórel. Como achei o conteúdo estranho e, ao mesmo tempo, interessantíssimo, resolvi levá-los comigo até minha casa para degustá-los mais detidamente. No caminho, fui especulando ter encontrado um simples passatempo para as minhas entediantes horas de ócio, tanto que eu nem chagava perto de suspeitar do choque emocional que logo isso iria me custar nem muito menos do curso que minha vida iria tomar após a conclusão da leitura daqueles cadernos.


Talvez as linhas que você, caro leitor, lerá nos próximos dias aqui façam, na melhor das hipóteses, você se defrontar com seus próprios demônios e mergulhar, assustadoramente, nos seus mais profundos abismos.

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